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A política de turismo considera o clima? Explorando as narrativas sobre a estação chuvosa na zona costeira de Alagoas, Brasil

Resumo

Esse estudo busca ampliar a discussão sobre a extensão na qual o turismo pode responder às expectativas socioeconômicas. Como em outras zonas costeiras, o estado de Alagoas tem priorizado a promoção turística, apesar da ocorrência de uma estação chuvosa que freia o desenvolvimento do seu principal tipo de turismo, de sol e praia. Neste contexto, o clima e o tempo são utilizados como pontos de referência para essa análise. Por intermédio de diversas fontes, foram identificadas nove narrativas relacionadas à estação chuvosa. As narrativas foram cruzadas com o Plano Estratégico para o Desenvolvimento Turístico de Alagoas 2013-2023, apontando que a estação chuvosa está mal refletida na política estadual. Para melhor abordar as limitações e demandas locais-regionais atuais, recomendações foram, assim, propostas. Além do escopo desse trabalho, a abordagem das narrativas provou ser útil para ampliar a consideração de valores e significados no desenvolvimento de políticas públicas, especialmente na relação ambiente-sociedade.

Palavras-chave:
Políticas públicas; narrativas; clima e tempo; turismo de sol e praia; Alagoas

Abstract

This study aims to expand the discussion regarding the extent to which tourism can address socioeconomic expectations. Like other coastal regions, the state of Alagoas has prioritised tourism promotion, despite facing a rainy season that hinders its primary form of tourism, known as Sea, Sun and Sand tourism. We have based our assessment on climate and weather. Through various sources, we have identified narratives related to the rainy season. When crossing these narratives with the Alagoas Strategic Plan for Tourism Development 2013-2023, our findings revealed that the state’s policy inadequately addresses the impact of the rainy season. Consequently, we have proposed some recommendations to better align with current local-regional constraints and demands. Beyond the scope of this work, our narrative approach has proven valuable in expanding the consideration of values and meanings within the framework of public policy development, potentially fostering a more holistic understanding of the environment-society relationship.

Keywords:
Public policies; narratives; climate and weather; 3S tourism; Alagoas

Resumen

Este estudio buscó expandir la discusión sobre la extensión en que el turismo puede responder a las expectativas socioeconómicas. Como en otras zonas costeras, el estado de Alagoas ha priorizado la promoción turística, pese a la ocurrencia de una estación lluviosa que frena el desarrollo de su principal tipo de turismo, de sol y playa. En este contexto, clima y tiempo son utilizados como puntos de referencia para este análisis. Por intermedio de diversas fuentes, se identificaron nueve narrativas sobre la estación lluviosa. Al cruzarlas con el Plan Estratégico para el Desarrollo Turístico de Alagoas 2013-2023, los resultados destacaron cómo la estación lluviosa está mal reflejada en dicha política pública. Para mejor abordar las limitaciones y demandas locales-regionales actuales, son propuestas recomendaciones. Más allá de esto, el abordaje de las narrativas probó su utilidad para expandir la consideración de valores y significados en políticas públicas, potencialmente en la relación ambiente-sociedad.

Palabras-clave:
Políticas públicas; narrativas; clima y tiempo; turismo de sol y playa; Alagoas

Introdução

Desde a década de 1950, observamos um notável e acelerado crescimento das tendências socioeconômicas, acarretando uma série de impactos tanto na sociedade quanto no meio ambiente em escalas locais e globais (STEFFEN et al., 2015STEFFEN, W.; BROADGATE, W.; et al. The Trajectory of the Anthropocene: The Great Acceleration. The Anthropocene Review 2(1): 81-98, 2015.). Este fenômeno ressalta uma conexão significativa entre as atividades humanas e as condições ambientais, desencadeando discussões acerca da imprescindibilidade de levar em conta as características e os limites biofísicos do planeta ao debater a dinâmica econômica. Esta perspectiva, contrastante com a economia tradicional arraigada no livre mercado, conforme destacado por Vieira e Sampaio (2022VIEIRA, P.; SAMPAIO, C. Ecosocioeconomies at the Crossroad of the Anthropocene. A Systemic-Transdisciplinary Perspective. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña 12(1): 168-208, 2022.), evidencia a necessidade premente de uma revisão nos paradigmas econômicos vigentes. Apesar das recomendações de governança e regulamentação do mercado, a abordagem predominante ao planejamento do desenvolvimento continua a priorizar o crescimento econômico em detrimento das interligações com os ciclos e processos do sistema terrestre (VIEIRA, 2019VIEIRA, P. A ética do ecodesenvolvimento na era do Antropoceno. Uma perspectiva ecocêntrica-transdisciplinar II. Em: Ética socioambiental, p. 17-40, 2019.). Tal disparidade persiste, evidenciando a necessidade urgente de uma reflexão mais profunda e uma ação concertada para enfrentar os desafios socioambientais contemporâneos.

O turismo é um setor econômico reconhecido mundialmente, conhecido pelo seu rápido crescimento (SUBRAMANIAM; MASRON, 2021SUBRAMANIAM, Y.; MASRON, T. The impact of tourism on entrepreneurship in developing countries. Business Strategy and Development, v. 5, issue 3, p. 153-164, 2021.). Desempenha um papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico de muitos países em desenvolvimento, beneficiando particularmente as comunidades de baixos rendimentos, apoiando os meios de subsistência existentes e proporcionando oportunidades de emprego (INCERA; FERNÁNDEZ, 2015INCERA, A.; FERNÁNDEZ, M. Tourism and income distribution: Evidence from a developed regional economy. Tourism Management, v. 48, p. 11-20, 2015.). O turismo depende de recursos naturais locais e regionais, incluindo paisagens terrestres, paisagens marinhas e condições climáticas (BUZINDE et al., 2010BUZINDE, C. et al. Representations and adaptation to climate change. Annals of Tourism Research, v. 37, n. 3, p. 581-603, 2010.). O clima e o tempo são fatores particularmente significativos para o turismo, influenciando a escolha do destino (YU et al., 2021YU, D. et al. A comparison of the holiday climate index: beach and the tourism climate index across coastal destinations in China. International Journal of Biometeorol, v. 65, 741-748, 2021.), a duração e a qualidade da temporada (RUTTY; SCOTT, 2016RUTTY, M.; SCOTT, D. Comparison of Climate Preferences for Domestic and International Beach Holidays: A Case Study of Canadian Travellers. Atmosphere, v. 7, n. 2, p. 30, 2016.) e os gastos gerais (WILKINS et al., 2018WILKINS, E. et al. Effects of Weather Conditions on Tourism Spending: Implications for Future Trends under Climate Change. Journal of Travel Research, v. 57 n. 8, p. 1042-1053, 2018.). O turismo de sol e praia gira em torno dos atributos das zonas costeiras e depende notavelmente do clima e do tempo (YU et al., 2021). É principalmente impulsionado por fluxos de viagens intra e inter-regionais, que afetam o número de visitantes (IBARRA, 2011IBARRA, E. The use of webcam images to determine tourist-climate aptitude: favourable weather types for sun and beach tourism on the Alicante coast (Spain). Int J Biometeorol, v. 55, p. 373-385, 2011.). No entanto, o turismo de sol e praia enfrenta ameaças causadas pelo clima, incluindo a subida do nível do mar, mudanças nos padrões de precipitação e tempestades, temperaturas extremas, que deverão aumentar devido às mudanças climáticas (IPCC, 2022; MORENO; BECKEN, 2009MORENO, A.; BECKEN, S. A climate change vulnerability assessment methodology for coastal tourism. Journal of Sustainable Tourism, v. 17, n. 4, p. 473-488, 2009.).

Em Alagoas, estado localizado no litoral nordeste do Brasil, o turismo de sol e praia é uma atividade econômica significativa (ARAÚJO; CARVALHO, 2013ARAÚJO, L. M.; CARVALHO, R. O turismo de massa em debate: a importância de sua análise para o planejamento turístico do estado de Alagoas, Brasil. X Seminário da Associação Nacional Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo de 9 a 11 de outubro de 2013, UCS; 2013.), apesar da presença de uma estação chuvosa anual que climatologicamente dura aproximadamente três meses e limita seu potencial durante todo o ano. Não obstante, o turismo tem aumentado em Alagoas nos últimos anos (SILVA; JUNKES, 2020SILVA, A.; JUNKES, J. Revisão e Realidade da RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá. Diversitas Journal, v. 5, n. 4, p. 2632-2648, 2020.), atribuído em parte a iniciativas governamentais que visam estabelecer uma forte presença no mercado turístico brasileiro ao lado de outras atividades econômicas bem estabelecidas (ALVES et al., 2018ALVES, S. et al. Formação econômica de Alagoas: da agroindústria canavieira à indústria “sem chaminés” (turismo): dependências e contradições. Revista Rural e Urbano, Recife, v. 3, n. 2, p. 61-81, 2018.). Para fomentar e regular as atividades turísticas, o governo do estado criou o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo 2013-2023 (PEDT) com o objetivo de lançar as bases para planos turísticos regionais, municipais e locais (ALAGOAS, 2013).

A priorização do turismo em Alagoas é impulsionada pela crença de que este pode estimular a economia do estado e enfrentar os desafios socioeconômicos, como, por exemplo, o fato de Alagoas ter o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (ALVES et al., 2018ALVES, S. et al. Formação econômica de Alagoas: da agroindústria canavieira à indústria “sem chaminés” (turismo): dependências e contradições. Revista Rural e Urbano, Recife, v. 3, n. 2, p. 61-81, 2018.). Por outro lado, o crescimento do turismo, juntamente com a urbanização costeira e a sobrepesca, teve um impacto negativo nos ativos costeiros da região e nas comunidades que dependem dos recursos naturais. Paradoxalmente, as comunidades pesqueiras veem o turismo como uma fonte complementar de renda, especialmente durante a escassez pesqueira, permitindo-lhes permanecer vinculadas aos seus territórios (ANDRADE, 2020ANDRADE, J. Pesca artesanal, turismo e impactos socioambientais: a percepção ambiental dos pescadores na APA Costa dos Corais (Alagoas/Brasil). 127 p. (Dissertação). Instituto de Ciências do Mar, UFC, 2020.; LAPOINTE et al., 2021LAPOINTE, D. et al. Tourism Adaptation to Coastal Risks: A Socio-Spatial Analysis of the Magdalen Islands in Québec, Canada. Water, v. 13, p. 2410, 2021.). O turismo, portanto, serve como uma alternativa de subsistência. No entanto, há necessidade de uma análise mais aprofundada sobre até que ponto este pode atender às expectativas socioeconômicas da sociedade alagoana. Essa questão tem enfrentado críticas do ponto de vista socioeconômico, cultural e ambiental (MARTINS; MARTINS, 2011MARTINS, E.; MARTINS, F. Social and Environmental Impacts: Perceptions and Values of the People Involved in the Occupation Process on the South Coast of Alagoas, Brazil. JCR, 61, 415-416, 2011.; ALVES et al., 2018).

Contar histórias sobre experiências e relações com o ambiente circundante pode ser uma ferramenta útil para o planejamento turístico, pois ajuda a orientar as ações em direção aos resultados desejados (PASCHEN; ISON, 2014PASCHEN, J.A., ISON, R. Narrative research in climate change adaptation-Exploring a complementary paradigm for research and governance. Research Policy, V. 43, Issue 6, p. 1083-1092, 2014.; MOEZZI et al., 2017MOEZZI, M., JANDA, K.B., ROTMANN, S. Using stories, narratives, and storytelling in energy and climate change research. Energy Research & Social Science, V. 31, P.1-10, 2017.). As narrativas expressam pontos de vista e significados correspondentes por meio de palavras, demonstrando como as preferências públicas podem ser consideradas na concepção e implementação de políticas públicas, estabelecendo objetivos específicos, metas e ferramentas relacionadas (ALLEN; GIAMPIETRO, 2006). Isto, por sua vez, aumenta a relevância e a adaptabilidade da gestão (BOMBANA et al., 2021BOMBANA, B. et al. Multidimensional assessment of beach systems on the Catalan coast from a pragmatic and epistemological perspective. Ecological complexity, v. 45, p. 100907, 2021.). Este trabalho enfoca as limitações associadas ao turismo em Alagoas, particularmente no que diz respeito ao clima local e aos padrões climáticos. Investigamos narrativas sobre a estação chuvosa no litoral alagoano, considerando o contexto das mudanças climáticas, para compreender diversas perspectivas sobre como a estação chuvosa é percebida. Posteriormente, avaliamos se e como a estação chuvosa é abordado no Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo do Estado 2013-2023 (PEDT). Fornecemos recomendações para alinhar a política atual com as restrições, demandas e oportunidades locais e regionais. Esta abordagem analítica é considerada inovadora no campo do turismo e possui significativa relevância para a adaptação de políticas públicas setoriais (TORRES-DELGADO; LÓPEZ PALOMEQUE, 2012TORRES-DELGADO, A.; LÓPEZ PALOMEQUE, F. The growth and spread of the concept of sustainable tourism: The contribution of institutional initiatives on tourism policy. Tourism Management Perspectives, v. 4, p. 1-10, 2012.).

Material e métodos

Área de estudo

Alagoas, situada no litoral nordeste do Brasil, apresenta clima semiárido no interior e clima tropical na mesorregião leste de Alagoas, que corresponde aproximadamente à zona costeira do estado (MEDEIROS et al., 2021MEDEIROS, F. et al. Hydrometeorological conditions in the semiarid and east coast regions of Northeast Brazil in the 2012-2017 period. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 93, n. 1, 2021.). Os maiores índices pluviométricos do estado são registrados no leste alagoano, com precipitação média anual superior a 1.000 mm e estação chuvosa climatológica anual tipicamente de maio a julho (MEDEIROS et al., 2021).

Este estudo teve como foco a região do leste alagoano, que inclui 27 municípios litorâneos (MMA, 2021) (Figura 1) e duas unidades de conservação: Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) e Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá (RESEX Jequiá). Aspectos históricos e culturais desta área, combinados com as diversas paisagens costeiras naturais, como praias arenosas, recifes de corais e arenitos, lagoas costeiras, rios e ecossistemas de mangue, fazem do litoral de Alagoas um importante destino turístico no Brasil (ALAGOAS, 2013).

Figura 1
A Mesorregião Leste de Alagoas incluindo 27 municípios litorâneos destacados em cinza escuro.

O litoral alagoano pode ser dividido em quatro regiões turísticas: Metropolitana, Costa dos Corais e Lagoas, Mares do Sul e Caminhos do São Francisco (ARAÚJO; CARVALHO, 2013ARAÚJO, L. M.; CARVALHO, R. O turismo de massa em debate: a importância de sua análise para o planejamento turístico do estado de Alagoas, Brasil. X Seminário da Associação Nacional Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo de 9 a 11 de outubro de 2013, UCS; 2013.). Dada a dependência significativa do turismo de sol e praia nas condições climáticas (SANTOS-LACUEVA et al., 2017SANTOS-LACUEVA, R. et al. The Vulnerability of Coastal Tourism Destinations to Climate Change: The Usefulness of Policy Analysis. Sustainability, v. 9, p. 2062, 2017.), prevê-se que a maioria dos turistas visitará Alagoas durante os meses de verão austral (final de dezembro a março). Este período tradicionalmente apresenta baixas chuvas e está alinhado com o período de férias padrão do verão brasileiro.

A política de turismo por meio das narrativas da estação chuvosa

A presente análise seguiu três etapas principais (Figura 2): 1) Construção e classificação das narrativas, 2) Comparação cruzada entre o PEDT e as narrativas e 3) Recomendações para políticas futuras baseadas nos resultados das etapas 1 e 2.

Figura 2
Quadro principal de análise e fontes narrativas.

Construção e classificação de narrativas

As narrativas sobre a estação chuvosa na costa de Alagoas foram obtidas de vários meios, incluindo a imprensa local e regional, materiais promocionais de turismo, publicações e sites governamentais, artigos revisados por pares e pesquisas on-line direcionadas às comunidades costeiras. Empregamos termos específicos que atuaram como indicadores da estação chuvosa ou da ausência de chuva para identificar narrativas relevantes dentro das fontes analisadas (por exemplo, chuva, estação chuvosa, precipitação, eventos climáticos extremos, inundação, sol, seca, verão, inverno e das mudanças climáticas).

Devido às restrições relacionadas à pandemia de COVID-19, não foi possível realizar entrevistas presenciais. Em vez disso, criamos uma pesquisa on-line usando o Formulário Google que foi compartilhado com os/as moradores do litoral de Alagoas por meio de plataformas de mídia social (WhatsApp e Twitter) entre outubro e novembro de 2021. Além de um termo de consentimento que as pessoas entrevistadas deveriam ler e assinar antes de iniciar a pesquisa1 1 - Número de referência do comitê de ética através da Plataforma Brasil (CAAE): 56051922.0.0000.0039 e SISBIO: 80999-1. , este incluiu perguntas estruturadas e semiestruturadas destinadas a caracterizar os seus papéis nas comunidades, como o tempo e o clima influenciaram os seus meios de subsistência e se perceberam mudanças no padrão típico da estação chuvosa.

Após uma análise textual inicial baseada nas fontes de informação acima mencionadas, implementamos um quadro de classificação para narrativas da estação chuvosa utilizando Bremer (2018BREMER, S. Case study: Bergen / Norway. In: Krauß, W et al. Initial mapping of narratives of change. Deliverable 1.1. from Project CoCliServ, 2018.) e Krauß et al. (2018KRAUß, W. et al. Initial mapping of narratives of change. Deliverable 1.1. from Project CoCliServ, 2018.) como referências. As tipologias das narrativas resultantes não eram mutuamente exclusivas; assim, uma única fonte poderia conter duas ou mais narrativas. Nossa análise se baseou em seis categorias de narrativas principais:

  1. Promocional: visando atrair visitantes e negócios;

  2. Identidade: relatos históricos locais e regionais que fornecem informações sobre as percepções, as relações com o meio ambiente e, mais importante, as construções de um lugar e do seu povo num determinado momento;

  3. Romântica: a beleza e a mística da paisagem natural, frequentemente encontrada na literatura;

  4. Baseada na ciência: relatos e fatos científicos e acadêmicos;

  5. O clima atual e os eventos climáticos extremos: relatos detalhando os fenômenos meteorológicos atuais e os impactos na comunidade;

  6. Mudanças climáticas: narrativas informadas pela ciência que muitas vezes incorporam elementos morais ou éticos.

Narrativas da estação chuvosa, política regional de turismo e recomendações

O PEDT foi concebido para orientar as ações da Secretaria de Estado de Turismo de Alagoas (SEDETUR), secretaria estadual que atua em colaboração com outras instâncias e níveis governamentais. Com o objetivo de fortalecer a gestão descentralizada, o PEDT visa incentivar o desenvolvimento turístico multinível no estado, construindo políticas que devem ser pactuadas por meio de processos participativos que envolvam membros do Fórum Turístico Estadual (ALAGOAS, 2013).

Realizamos uma análise textual do PEDT para identificar discursos, argumentos e conceitualizações relacionadas ao clima e ao tempo. Nosso objetivo foi determinar se esses temas eram considerados assuntos urgentes e compreender as razões por trás de tais avaliações (SANTOS-LACUEVA et al., 2017SANTOS-LACUEVA, R. et al. The Vulnerability of Coastal Tourism Destinations to Climate Change: The Usefulness of Policy Analysis. Sustainability, v. 9, p. 2062, 2017.). As seções relevantes do PEDT (Tabela 1) foram cruzadas e comparadas com as narrativas identificadas na etapa 1. Nosso objetivo foi avaliar como a estação chuvosa foi abordada na política, também considerando as mudanças climáticas como uma ameaça ou uma oportunidade para as atividades turísticas. Ao consolidar esta análise, extraímos recomendações para políticas futuras alinhadas com o clima local e as características meteorológicas, bem como com o debate em curso sobre a crise climática.

Tabela 1
Descrição do conteúdo do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo (PEDT) referente à zona costeira de Alagoas.

Resultados

Narrativas sobre a estação chuvosa na costa de Alagoas

As narrativas analisadas neste estudo foram provenientes de diferentes fontes, representando a diversidade de valores e interpretações associadas à estação chuvosa no litoral alagoano. Estas narrativas foram classificadas em seis grandes categorias com base na sua mensagem principal: promocionais, relacionadas com a identidade, românticas, baseadas na ciência, condições meteorológicas e eventos climáticos extremos e mudanças climáticas. Essas categorias foram subdivididas em nove subcategorias, cada uma com significados específicos: ausência de estação chuvosa, identidade costeira, salvação, recreação e satisfação, raciocínio científico, período de perdas, período de ganhos, período de desastres e mudanças na estação chuvosa, conforme descrito na Tabela 2.

Algumas narrativas sobre a estação chuvosa foram associadas à recreação, à satisfação e a melhor qualidade de vida pelos moradores locais. Provavelmente por manterem ligações sentimentais com o período climático, associando suas identidades à região costeira do Alagoas. As chuvas também estiveram ligadas a benefícios e perdas econômicas e ecológicas. Por um lado, levaram ao aumento da produtividade biológica, mas, por outro lado, resultaram na redução das atividades pesqueiras e turísticas, bem como na acumulação de lixo e esgotos. Nas narrativas científicas, a estação chuvosa forneceu informações fundamentais utilizadas para determinar os padrões meteorológicos e climáticos, assim como para definir as estações de verão e inverno do estado. No entanto, as fontes de promoção regional omitiram informações e percepções associadas à estação chuvosa, provavelmente para evitar desencorajar potenciais turistas de visitar o estado. Narrativas sobre desastres naturais associados às chuvas descreveram inundações, deslizamentos de terra e perda de propriedades e/ou vidas. Além disso, houve relatos de mudanças na estação chuvosa e outros eventos climáticos extremos, alinhados com narrativas mais amplas sobre mudanças climáticas.

Nosso levantamento online obteve respostas de 55 participantes. Destes, 17 estavam empregados no setor pesqueiro, 3 no turismo, 2 na educação, 3 na pesquisa científica e 6 em outros setores. Além disso, 24 entrevistados optaram por não divulgar sua ocupação. As suas respostas forneceram informações valiosas sobre as percepções a respeito da estação chuvosa, os impactos do tempo e do clima nos seus meios de subsistência e se tinham observado mudanças nos padrões da estação chuvosa. Segundo os/as participantes, maio, junho, julho e agosto constituem a estação chuvosa. Uma maioria significativa dos entrevistados (73,6%) relatou ter observado alterações no regime de chuvas ao longo dos anos (Figura 3).

Figura 3
Meses com maior precipitação na costa de Alagoas de acordo com a percepção de habitantes locais de diferentes segmentos profissionais.

Tabela 2
Narrativas sobre a estação chuvosa no litoral alagoano, incluindo classificação, descrição e fonte.

O planejamento turístico de Alagoas considera as condições do tempo e do clima?

No âmbito do PEDT, o planejamento é visto como um meio de garantir a plena expressão dos benefícios e resultados que são promovidos pelo turismo. Consequentemente, a abordagem foi criada para fornecer orientações claras para os programas estratégicos e ações integradas. A integração com outras áreas políticas é reconhecida no PEDT; no entanto, é algo limitado, principalmente no que diz respeito ao meio ambiente, que é abrangido pelo Programa 5 - Meio ambiente. Contudo, de acordo com a Política Ambiental Brasileira - PNMA (BRASIL, 1981), as diretrizes ambientais e de desenvolvimento turístico devem estar interligadas para garantir a qualidade ambiental das regiões turísticas do estado e a efetiva implementação de áreas protegidas.

Os processos e recursos naturais, incluindo o clima e o tempo, desempenham papéis funcionais limitados no PEDT e são vistos principalmente como fatores que apoiam ou dificultam o turismo. Por exemplo, o clima é considerado uma atração turística e um fator crucial para impulsionar o desenvolvimento do turismo num destino. A “alta vulnerabilidade ambiental” de Alagoas é mencionada no documento e atribuída à fragilidade natural e a fatores específicos do desenvolvimento, como práticas históricas da indústria canavieira e o avanço da infraestrutura urbana não planejada nas praias e na vegetação costeira associada.

Após o cruzamento das narrativas com o PEDT ficou evidente que o clima e o tempo não são cuidadosamente considerados no planejamento do turismo no estado, apesar da sua importância fundamental para o turismo de sol e praia e segmentos relacionados. A narrativa “Ausência de estação chuvosa” foi indiretamente evidenciada no PEDT, ainda que reiteradamente, uma vez que as palavras “chuva” e “chuvoso” não foram mencionadas nem implícitas, ao contrário da palavra “sol”, que foi mencionada mais de 20 vezes no documento. No entanto, o PEDT mencionou um bem natural associado às chuvas (por exemplo, “várzea” ou planície de inundação), denotando timidamente elementos de uma narrativa de “Identidade” costeira que dependeria de uma estação chuvosa. Além disso, o clima e o tempo não foram considerados assuntos urgentes, pelo menos não na opinião daqueles/as envolvidos na elaboração do documento. Portanto, o PEDT não avaliou nem forneceu orientações sobre clima e tempo em termos das oportunidades e desafios que representam para o sector. Por outro lado, o turismo de sol e praia é apresentado como o principal ramo da política do PEDT e os esforços dessa política são maximizados para este segmento.

O PEDT também se baseia na expansão do turismo, incentivando a diversificação e a competitividade através da exploração das oportunidades existentes. Esta aposta do PEDT é visível no Programa 4 - Diversificação e Competitividade da Oferta Turística.

Discussão

Apesar da multiplicidade de narrativas sobre a estação chuvosa na zona costeira de Alagoas, apenas duas delas influenciaram indiretamente o PEDT e ações e estratégias subsequentes de turismo: “Ausência de uma estação chuvosa” e, muito timidamente, “Identidade”. Geralmente, a estação chuvosa é percebida como um obstáculo para o desenvolvimento do turismo, especialmente no contexto do turismo de sol e praia e atividades relacionadas. A omissão deliberada de informações sobre a existência de uma estação chuvosa em uma região costeira de férias na costa nordestina, parece ser uma estratégia para evitar dissuadir turistas de escolherem Alagoas como destino, como observado em outros locais (por exemplo, BREMER, 2018BREMER, S. Case study: Bergen / Norway. In: Krauß, W et al. Initial mapping of narratives of change. Deliverable 1.1. from Project CoCliServ, 2018.). Os objetivos de políticas de turismo existentes em Alagoas, em vez de incorporarem características biogeográficas importantes que ajudariam os/as interessados a produzir ações úteis e específicas, parecem estar desalinhados com fenômenos naturais, especialmente em relação ao clima e ao tempo. Consequentemente, essa visão limitada deixa os/as usuários despreparados para lidar com preocupações contemporâneas urgentes, como as mudanças climáticas (SCOTT et al., 2008SCOTT, D. et al. Climate change and tourism: Responding to global challenges. WTO, Madrid, 230, 2008.).

Outras narrativas indicam formas alternativas de considerar a estação chuvosa. Primeiramente, este período é reconhecido como uma realidade em Alagoas (isto é, narrativa de “Raciocínio científico”). Assim, a estação chuvosa deveria ser levada em consideração em todas as iniciativas dependentes das condições climáticas, abrangendo tanto o planejamento turístico quanto o pesqueiro. Adicionalmente, as mudanças climáticas desafiam os gestores a aprimorar as capacidades de adaptação dessas atividades, uma vez que os efeitos dessas transformações apresentam características dinâmicas e imprevisíveis (KAUFFMAN; HILL, 2021KAUFFMAN, N.; HILL, K. Climate Change, Adaptation Planning, and Institutional Integration: A Literature Review and Framework. Sustainability, v. 13, p. 10708, 2021.). A narrativa “Mudanças na estação chuvosa” sugere que as mudanças climáticas provavelmente modificarão os padrões de chuva e os desastres associados, potencialmente afetando o desenvolvimento do turismo, entre outros impactos. Climatologicamente, a estação chuvosa na costa de Alagoas geralmente ocorre de maio a julho; no entanto, esse padrão pode ser influenciado pela variabilidade interanual da temperatura da superfície do mar (TSS). Outros períodos chuvosos observados na região incluem março a maio; abril a junho; e junho a agosto (PEREIRA et al., em revisão). Um modelo de previsão de chuvas que utilizou 39 anos de dados meteorológicos (1982-2021), revelou que nos últimos seis anos, quatro estações chuvosas ocorreram de março a maio. Este resultado sugere que a estação chuvosa na costa alagoana possivelmente esteja mudando para o início do ano, em decorrência das mudanças climáticas ou da variabilidade costeira (PEREIRA et al., em preparação), o que a aproxima do período de férias de verão.

Independentemente da época do ano, a estação chuvosa também é valorizada como algo positivo, dependendo da situação ou da pessoa que a vivencia (narrativas de “Recreação e satisfação”, “Salvação” e “Um período de ganhos”). Alguns países propensos a monções, por exemplo, adotaram o ‘turismo de monções’, capitalizando os benefícios desta estação, tais como temperaturas mais baixas, menos aglomerações e acomodações mais baratas. Esses benefícios são complementados por diversas formas de entretenimento, incluindo eventos musicais, exposições de flores e gastronomia (CHOWDHURY; KASEM, 2014CHOWDHURY, S.; KASEM, N. Monsoon tourism: A new aspiration for Bangladesh tourism industry. Journal of Tourism, Hospitality and Sports 2 (1), 2312-5187, 2014.; TRIHN, 2020TRIHN, T. T. Community Garden Experience During the Off-Peak Tourism Rainy Season at Hoi An Heritage Town, Vietnam. IN: NAIR et al. Responsible rural tourism in Asia. Bristol: Channel View Publications, 2020.). Além disso, alguns estudos destacaram as vantagens da estação chuvosa em termos de produtividade biológica e do ecossistema (COSTA et al., 2011COSTA, V. et al. Effects of a high energy coastal environment on the structure and dynamics of phytoplankton communities. Journal of Coastal Research, Special Issue 64, pp. 354-358, 2011.; SOUZA et al., 2018SOUZA, C. et al. What are the main local drivers determining richness and fishery yields in tropical coastal fish assemblages? Zoologia, 35: e12898, 2018.), corroborando a narrativa de “Um período de ganhos”. Costa et al. (2011COSTA, V. et al. Effects of a high energy coastal environment on the structure and dynamics of phytoplankton communities. Journal of Coastal Research, Special Issue 64, pp. 354-358, 2011.) observaram que precipitação é o principal fator que influencia a composição, densidade, biomassa e diversidade da comunidade de fitoplâncton. Outro estudo relacionou maior diversidade de peixes, abundância, captura por unidade de esforço e comprimento médio das espécies à estação chuvosa (SOUZA et al., 2018). As percepções dos pescadores no sudeste do Brasil estão alinhadas com esta narrativa, sugerindo que a estação chuvosa é mais produtiva e resulta em melhores capturas (MARTINS; GASALLA, 2018MARTINS, I.; GASALLA, M. Small-scale fisher’s perceptions of climate and oceans conditions in the South Brazil Bight. Climate Change, 147, 441-456, 2018.). Por outro lado, a estação chuvosa também apresenta desafios para os pescadores devido à maior incidência de tempestades, o que, por conseguinte, limita as suas viagens de pesca (MARTINS; GASALLA, 2018). Essa situação se assemelha às narrativas que abordam “Um período de perdas” e “Um período de desastres”.

Embora este trabalho reconheça a sazonalidade do turismo de sol e praia e sua vulnerabilidade às mudanças climáticas, o PEDT tende a negligenciar esses temas críticos. É importante observar que clima, tempo e vulnerabilidade ambiental não são o foco principal do planejamento turístico, mas a omissão desses componentes sugere uma falta de apreciação adequada das questões atuais no setor. Dado que o turismo, especialmente o turismo de sol e praia, está intrinsecamente ligado ao clima e ao tempo, é essencial reconhecer a influência desses fatores. Considerar esses elementos torna-se crucial para desenvolver ações contextualmente apropriadas, alinhadas com as flutuações e limitações locais-regionais (SANTOS-LACUEVA et al., 2017SANTOS-LACUEVA, R. et al. The Vulnerability of Coastal Tourism Destinations to Climate Change: The Usefulness of Policy Analysis. Sustainability, v. 9, p. 2062, 2017.). A utilização de pesquisas de percepção turística, uma prática comum no campo da gestão do turismo, pode contribuir significativamente para o planejamento dessas ações. Tais pesquisas devem abranger perguntas relacionadas ao clima e ao tempo, assim como fornecer um melhor entendimento sobre as preferências e comportamentos dos turistas em situações atuais e potenciais (por exemplo, BOMBANA et al., 2023BOMBANA, B. et al. Will Climate Change Affect the Attractiveness of Beaches? Beach Users’ Perceptions in Catalonia (NW Mediterranean). Sustainability, 15(10), 7805, 2023.).

Acima de tudo, os esforços de planejamento do turismo devem reconhecer a sazonalidade interanual do clima para desenvolver estratégias de adaptação que ofereçam suporte a pessoas e empresas ao longo do ano. Isso se torna especialmente relevante se o governo de Alagoas estiver comprometido em aprimorar os indicadores socioeconômicos e os meios de subsistência do estado (ALVES et al., 2018ALVES, S. et al. Formação econômica de Alagoas: da agroindústria canavieira à indústria “sem chaminés” (turismo): dependências e contradições. Revista Rural e Urbano, Recife, v. 3, n. 2, p. 61-81, 2018.). Vale a pena ponderar sobre a confiança depositada no turismo, particularmente no turismo de sol e praia, como um meio para alcançar tal progresso. Essa confiança não se manifesta apenas no PEDT, mas também fica evidente nos investimentos recentes do estado. Um exemplo disso é a alocação de uma parte substancial das linhas de crédito de Alagoas para serviços vinculados ao setor turístico (DESENVOLVE ALAGOAS, s.d.). Os benefícios sociais do turismo representam uma área crucial para o debate, dando voz a algumas perspectivas divergentes. Há argumentos que apontam que as práticas atuais tendem a perpetuar a concentração de renda, especialmente por meio da implementação de salários baixos ou informais, muitas vezes desprovidos de garantias legais de emprego (ALVES et al., 2018). Além disso, impactos ambientais e culturais negativos, como a destruição do estilo de vida e das identidades tradicionais, são causados pelos processos homogeneizadores do turismo, que distorcem paisagens e desconsideram espaços prioritários para os habitantes como locais de vida. Esses aspectos negativos limitam os efeitos positivos que o turismo poderia trazer (MARTINS; MARTINS, 2011MARTINS, E.; MARTINS, F. Social and Environmental Impacts: Perceptions and Values of the People Involved in the Occupation Process on the South Coast of Alagoas, Brazil. JCR, 61, 415-416, 2011.). Ademais, para abordar os desafios advindos da crescente complexidade socioeconômica em Alagoas e propor alternativas econômicas para enfrentá-los parcialmente, é imprescindível empreender esforços no sentido de integrar o turismo com outras políticas. Santos-Lacueva et al. (2017) argumentam que, além de lidar com práticas e suposições tradicionais que limitam a inclusão de novas questões na agenda clássica, também é importante considerar a transversalidade ao desenvolver e implementar políticas de turismo.

As narrativas possuem a capacidade de instigar reflexões, estabelecer instituições e incitar ações que se refletem em estratégias de gestão (BONTJE et al., 2018BONTJE, L. E. et al. A narrative perspective on institutional work in environmental governance - insights from a beach nourishment case study in Sweden. Journal of Environ. Planning and Management, v.62, n.1, p.30-50, 2018.). Com base nisso, as recomendações a seguir buscam abordar deficiências identificadas no âmbito do PEDT, as quais foram destacadas nesta pesquisa. Essas lacunas podem ser preenchidas por meio de futuras mudanças institucionais alinhadas aos objetivos estaduais e aos planos de turismo locais em Alagoas, bem como em outros estados onde o turismo desempenha um papel significativo. Dado que o escopo atual do PEDT abrange o período de 2013 a 2023, uma versão subsequente que englobe a próxima década poderia incorporar narrativas relacionadas ao clima e ao tempo, refletindo compensações e oportunidades contextuais. Essa abordagem busca uma integração mais eficaz com outros esforços de planejamento, como políticas socioeconômicas. Nesse sentido, as políticas públicas devem ser solidamente embasadas nas características socioecológicas das áreas locais e regionais, levando em consideração os sistemas socioecológicos e a disponibilidade de recursos (SANTOS-LACUEVA et al., 2017SANTOS-LACUEVA, R. et al. The Vulnerability of Coastal Tourism Destinations to Climate Change: The Usefulness of Policy Analysis. Sustainability, v. 9, p. 2062, 2017.).

Recomendação nº 1: Reconhecer a estação chuvosa para promover a diversificação do turismo nas diferentes estações e regiões

Embora as tendências atuais apontem o turismo de sol e praia como o principal segmento turístico em Alagoas, justificando assim práticas promocionais usuais como a ênfase nos dias ensolarados, que são uma estratégia típica de gestão do turismo, a diversificação de produtos e atrações turísticas é destacada como um tópico importante no PEDT. Para garantir que o turismo continue a ser um negócio rentável durante todo o ano, é essencial incorporar as características biogeográficas locais do litoral alagoano ao PEDT. Isso inclui a sazonalidade das chuvas, particularmente no contexto das mudanças globais (GRIMM et al., 2018GRIMM, I. et al. O turismo no cenário das mudanças climáticas: impactos, possibilidades e desafios. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 12, n. 3, p. 1-22, 2018.). Outros países tropicais que dependem do turismo exploraram e promoveram com sucesso a estação chuvosa como um período de clima favorável, que combinado com outras formas de entretenimento, como passeios de barco e cruzeiro, eventos musicais e exposições de flores, levam a um aumento de visitantes (CHOWDHURY; KASEM, 2014CHOWDHURY, S.; KASEM, N. Monsoon tourism: A new aspiration for Bangladesh tourism industry. Journal of Tourism, Hospitality and Sports 2 (1), 2312-5187, 2014.; TRIHN, 2020TRIHN, T. T. Community Garden Experience During the Off-Peak Tourism Rainy Season at Hoi An Heritage Town, Vietnam. IN: NAIR et al. Responsible rural tourism in Asia. Bristol: Channel View Publications, 2020.). Para que essa estratégia seja bem-sucedida, é necessário um processo de placemaking, que no português seria “fazer lugares” que são espaços públicos em que a interação entre as pessoas e a localidade é estimulada, para criar um sentido de lugar que seja capaz de aceitar a realidade da estação chuvosa e sua inerente maior suscetibilidade a desastres naturais. Esse processo leva a um aumento da consciência sobre a possibilidade de criar uma relação harmoniosa entre o empreendimento e o ambiente frágil, transformando essa condição de fragilidade em uma experiência turística única (TRIHN, 2020). Alagoas também oferece potencial turístico em outros ativos costeiros além do turismo de sol e praia durante a estação chuvosa, como o turismo de experiência em lagoas costeiras como as Rotas das Lagoas e a Lagoa Manguaba e em áreas não costeiras, onde há menor índice pluviométrico e fortes traços culturais e históricos, como os Cânions do Rio São Francisco, a cidade de Piranhas e o povoado da Ilha do Ferro. Esses elementos turísticos relativamente inexplorados poderiam impulsionar significativamente as economias locais, reconhecendo o patrimônio cultural e as expressões populares únicas do estado e promovendo o turismo de base comunitária. Em algumas unidades de conservação, como a APACC e a RESEX Jequiá, o turismo de base comunitária tem sido incentivado para envolver as comunidades costeiras na economia do turismo e fortalecer a gestão dos recursos naturais e culturais (LO; JANTA, 2020LO, Y.; JANTA, P. Resident’s Perspective on Developing Community-Based Tourism - A Qualitative Study of Muen Ngoen Kong Community, Chiang Mai, Thailand. Frontiers in Psychology, v. 11, p. 1493, 2020.).

Recomendação nº 2: Aumentar a capacidade de adaptação no cenário de mudanças climáticas

É provável que a mudança climática afete os padrões da estação chuvosa em Alagoas. Portanto, é essencial que as atividades turísticas se preparem para os possíveis resultados. Uma maneira de conseguir isso é incorporar os princípios, objetivos, diretrizes e ferramentas descritos na Política Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil (BRASIL, 2009). Por exemplo, os princípios de precaução e prevenção devem ser considerados e aplicados na elaboração de ações de turismo. Conforme declarado no PEDT, sem diretrizes específicas que abordem as questões, não fica claro como proceder em relação a elas. Além disso, as avaliações das capacidades das pessoas, dos sistemas e das organizações sobre como responder às consequências da mudança climática, incluindo a análise dos potenciais impactos, são exemplos de avaliações que ajudam os governos e as partes interessadas a entender a situação atual do turismo em uma determinada região e como a mudança climática provavelmente impactará esse setor (LAPOINTE et al., 2021LAPOINTE, D. et al. Tourism Adaptation to Coastal Risks: A Socio-Spatial Analysis of the Magdalen Islands in Québec, Canada. Water, v. 13, p. 2410, 2021.). Dessa forma, seria possível avaliar a evolução atual e futura dos impactos das mudanças climáticas, elaborando ações para enfrentá-los e aumentar a resiliência e a capacidade de adaptação.

Recomendação nº 3: Reconhecer e diversificar as atividades econômicas além do turismo

Neste trabalho, fizemos uma escolha deliberada de focar no planejamento do turismo em vez de outras atividades econômicas. Entretanto, nossa análise ressalta que, embora o turismo possa servir como uma alternativa para alguns desafios socioeconômicos em Alagoas, a priorização dessa atividade econômica deve ser tomada com cautela. Embora alguns estudos tenham se concentrado nas questões socioeconômicas que podem surgir do turismo (ALVES et al., 2018ALVES, S. et al. Formação econômica de Alagoas: da agroindústria canavieira à indústria “sem chaminés” (turismo): dependências e contradições. Revista Rural e Urbano, Recife, v. 3, n. 2, p. 61-81, 2018.; MARTINS; MARTINS, 2011MARTINS, E.; MARTINS, F. Social and Environmental Impacts: Perceptions and Values of the People Involved in the Occupation Process on the South Coast of Alagoas, Brazil. JCR, 61, 415-416, 2011.), este artigo enfatiza que o tempo e o clima podem impor restrições naturais a essa atividade e que as mudanças climáticas representam ameaças adicionais ao setor. A narrativa “Um período de ganhos” apontou na direção de atividades econômicas que coexistem e prosperam durante a estação chuvosa, como a pesca. Apesar das mudanças na abundância e sazonalidade de alguns recursos pesqueiros, a pesca continua a desempenhar um papel importante nas comunidades costeiras de Alagoas, constituindo uma atividade socioeconômica e cultural fundamental (SANTOS; SAMPAIO, 2013SANTOS, E.; SAMPAIO, C. A pesca artesanal da comunidade de Fernão Velho, Maceió (Alagoas, Brasil): de tradicional a marginal. Revista de Gestão Costeira Integrada, v. 13, n. 4, p. 513-524, 2013.). No entanto, a pesca de pequena escala recebe pouca ou nenhuma atenção social, ou política dos responsáveis pelo planejamento socioeconômico da região (TAMANO et al., 2015TAMANO, L. et al. Socioeconomia e saúde dos pescadores de Mytella falcata da Lagoa Mundaú, Maceió - AL. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, v. 10, n. 3, p. 699-710, 2015.). A consideração das narrativas das comunidades poderia esclarecer como distribuir e alocar esforços de planejamento, o que poderia levar a uma proposta de plano econômico integrado que se alinhe aos diversos contextos socioculturais, econômicos e ambientais da região.

Recomendação nº 4: Integrar outras políticas públicas à política de turismo

Considerando as áreas identificadas para melhoria no PEDT, recomendamos integrá-lo com outras políticas para abordar as diversas condições e iniciativas que são importantes para um turismo sustentável. Essas políticas devem abranger o meio ambiente, a agricultura, a energia e a educação (GRIMM et al., 2018GRIMM, I. et al. O turismo no cenário das mudanças climáticas: impactos, possibilidades e desafios. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 12, n. 3, p. 1-22, 2018.). Esta integração facilitaria uma consideração mais ampla dos desafios e oportunidades meteorológicas e climáticas, incluindo também as mudanças climáticas. Ao integrar várias dimensões políticas, os tomadores de decisão e as partes interessadas podem melhorar a sua capacidade de reformular holisticamente os problemas existentes, especialmente em resposta a contextos em evolução.

Em resumo, a identificação e a análise das narrativas ajudaram a enfatizar as questões relacionadas ao tempo e ao clima que são familiares às comunidades costeiras de Alagoas. Essas narrativas vão além das implicações econômicas no turismo; elas expressam os aspectos psicológicos e culturais da estação chuvosa, destacando seu valor multifacetado para Alagoas, comunidades costeiras e outras formas de vida. Conforme mencionado anteriormente, a análise de narrativas como método pode fornecer uma maneira de identificar e comunicar percepções sobre o que as pessoas consideram significativo e importante em seu contexto (ALLEN; GIAMPIETRO, 2006). Teoricamente, essas narrativas contribuem para discussões de planejamento que defendem cada vez mais a consideração de aspectos sociais e culturais juntamente com os técnicos. Isso é alcançado por meio da participação pública que inclui diferentes vozes e perspectivas em planos e programas. Consequentemente, os objetivos e as metas das políticas podem ser adaptados para melhor se alinharem às necessidades e expectativas das pessoas, aumentando, assim, a relevância do gerenciamento e a capacidade de adaptação (KRAUß; BREMER, 2020KRAUß, W.; BREMER, S. The role of place-based narratives of change in climate risk governance. Climate Risk Management, 28, 100221, 2020.). Adicionalmente, isso é particularmente importante em um contexto em que o restabelecimento das conexões entre as atividades humanas e os ciclos e processos do sistema terrestre é crucial para abordar problemas contemporâneos, como as mudanças climáticas e a governança de riscos (VIEIRA, 2019VIEIRA, P. A ética do ecodesenvolvimento na era do Antropoceno. Uma perspectiva ecocêntrica-transdisciplinar II. Em: Ética socioambiental, p. 17-40, 2019.). Essa ênfase se estende aos campos teóricos dedicados ao estudo das interações entre a sociedade e o meio ambiente.

Conclusões

Neste estudo, utilizamos narrativas para investigar a interação entre clima, tempo e planejamento turístico. Embora reconheçamos que a abordagem de tais fatores ambientais não deve ser o foco principal deste tipo de planejamento, a nossa análise revelou diversas narrativas sobre a estação chuvosa que poderiam fornecer informações valiosas para o turismo. Atualmente, o PEDT alinha-se principalmente com a narrativa “Ausência de uma estação chuvosa” dado que o clima desfavorável pode afetar negativamente o turismo de sol e praia durante uma parte do ano e restringir a subsequente geração e distribuição de rendimento para a população que dele depende. Embora tenha em conta os aspectos sociais e culturais, não reconhece os desafios e oportunidades associados ao tempo e ao clima destacados por outras narrativas. Estes aspectos são cruciais para o turismo de sol e praia e demais alternativas, incluindo os efeitos negativos das mudanças climáticas (por exemplo, eventos extremos).

Neste contexto, postulamos que este tipo de abordagem apresenta um potencial para conectar as percepções, valores e significados humanos aos processos e sistemas da Terra em escala local-regional, transcendendo as narrativas convencionais (ou a falta delas), tais como as justificativas econômicas. Isto é especialmente pertinente para enfrentar desafios de planejamento como a participação pública. No nosso caso, ajudou a afirmar que Alagoas não deveria considerar excessivamente o turismo como seu principal motor econômico. Enfatiza a importância de valorizar outras narrativas e propõe quatro recomendações nesse sentido. Num contexto mais amplo, esta compreensão pode servir como uma contribuição valiosa para reforçar as iniciativas governamentais destinadas a desenvolver planos baseados nas localidades e centrados na multiplicidade de atores, indo além do turismo e abrangendo outras atividades econômicas. A pesquisa por narrativas realizada neste estudo se mostrou útil na navegação pelas relações humano-biofísicas. Recomendamos que seja ampliada para diferentes políticas públicas não só em Alagoas, mas também em outros estados.

Agradecimentos

Este trabalho insere-se no Plano de Ação de Investigação-Intervenção (RIAP) “Será que Chove? - Integrando as comunidades costeiras nas previsões das alterações climáticas e nas estratégias de adaptação baseadas na natureza”, financiado pelo British Council (referência ID 715066064-RIAP 4) e coordenado pelo Instituto Ayni: Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável (Brasil). Agradecimentos a Ravena Sthefany Alves Nogueira pela ajuda no desenvolvimento do mapa. Além disso, os autores reconhecem a centralidade e agradecem sinceramente a todos os participantes deste estudo, bem como ao apoio dos colegas do RIAP. Em particular, Briana Bombana gostaria de expressar o seu agradecimento ao Ministério de Universidades (Espanha) e à União Europeia pela concessão de financiamento Margarita Salas (NextGenerationEU). Juliana Gaeta agradece à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela concessão de bolsa de inovação tecnológica, e Ivan Machado Martins agradece à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pela bolsa nº 2020/16028-5. Por último, Aline da Silva Cerqueira agradece ao Natural Environment Research Council (Grant No. NE/L002485/1) pelo apoio prestado no âmbito da London NERC Doctoral Training Partnership.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    03 Set 2022
  • Aceito
    22 Dez 2023
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